segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tudo Terminou Com Um Botão...



Minha vida era ótima, tinha bons amigos, um emprego que pagava bem e um bom chefe, uma casa, um carro do ano, era linda e o melhor: iria me casar com o homem da minha vida...

Naquela sexta feira tinha acordado com muito bom humor, me arrumei e desci para comer alguma coisa antes de ir para o trabalho, minha empregada tinha preparado um café da manha farto pra mim, e apesar de não ter tempo para provar tudo eu amei ver aquela linda mesa. Pensei “quando casar vai ser minha vez de acordar o meu amor com uma mesa dessas!”. Passei uns quinze minutos tentando achar as chaves do carro dentro da minha bolsa, rotina. Quando sai de casa já estava em cima da hora e mesmo chegando atrasada no escritório, meu chefe me recebeu com um largo sorriso.
- Bom Dia, Elisa! – Disse ele.
- Bom Dia Dr. Lucas! Desculpe o atraso, é que não conseg...
- Não tem problema, hoje você pode abusar de mim! – Respondeu rindo. É, parece que não tinha sido só eu quem acordou com o pé direito...
- Ok, doutor. – Disse.
- Qual a minha agenda de hoje querida? – Perguntou Lucas
- Às 12 horas o senhor tem um almoço marcado com o chefe financeiro da construtora Master e uma reunião com os acionistas às 16 horas.
- Ok, Elisa. Qualquer coisa estou na minha sala.

E ele saiu cantarolando alguma musica que não me lembro agora. Assim que se ouviu o som da batida da porta ecoar pela sala, minhas colegas, Lana e Julia, começaram:
- O que será que o deixou assim? - Perguntou Lana.
- Não faço idéia, só sei que não fui eu! – Respondeu Julia aos risos.
- E você Elisa, o que acha? – Perguntou Lana novamente.
- Como vou saber? Talvez seja o dia! Está lindo hoje! – Respondi eufórica.
- Nossa! Eu acho que é uma epidemia de bom humor!  Pelo menos nós sabemos o nome da alegria da Lisa... - Lança Julia.
- Miguel! – Falaram as duas ao mesmo tempo, elas sabiam que isso me irritava.
- Já chega vocês duas! Hora de trabalhar! – Reclamei.

Voltamos aos nossos afazeres diários: relatórios, memorandos, balancetes, enfim. Quando dei por mim já eram 14 horas. Então o Dr. Lucas saiu de sua sala e se dirigiu a mim, pediu com sua voz doce que eu o acompanhasse até sua sala. Lana e Julia se entreolharam curiosas. Quando chegamos, ele pediu que fechasse a porta e me sentasse, ele se sentou na sua cadeira também. Ficou me olhando com aqueles olhos verdes por longos segundos sem dizer nada. Então resolvi quebrar o silencio.
- Dr. Lucas, o senhor esta me deixando desconcertada...
- Oh, me desculpe Elisa. - Disse ele se ajeitando em seu assento.
- E então? Em que posso ajudá-lo?
Ele riu.
- Em muitas coisas querida! Mas não te chamei aqui por isso, quero te dar o resto da tarde de folga. – Respondeu.
- Nossa que bom doutor! Não vai mesmo precisar de mim por hoje?
- Não profissionalmente. Vamos comer alguma coisa?

Pensei por uns segundos, que mal havia? Ele era meu chefe, era melhor eu aceitar. Além do mais, não seria nenhum sacrifício.
- E então? – perguntou ele novamente, interrompendo meus pensamentos.
- Ok doutor.

E nos saímos. Durante a viagem nos conversamos bastante, não fazia idéia de como ele poderia ser agradavelmente engraçado. Quando descemos entramos numa pequena, mas muito elegante cantina italiana e nos sentamos.
- Gostou daqui? – Ele perguntou.
- Sim doutor, é muito bonito.
- É, eu gosto muito daqui, é bem agradável. Vamos combinar uma coisa?
- O que doutor?
- Fora do escritório você me chama de Lucas.
- Tudo bem, Lucas. – Cumpri com o acordo mesmo me sentindo estranha com isso.
- Ótimo! Vou pedir um vinho para nós.

E então ele chamou o maitre e pediu a tal carta de vinhos, escolheu um do qual eu não sabia nem pronunciar o nome. Então nós bebemos, e a cada gole eu ficava mais fascinada com ele, o jeito que ele contava aquelas histórias de sua vida, sua infância... Até que percebi que não podia mais ficar ali, aquilo era perigoso demais para alguém na minha situação. Contemplei aquele lindo objeto em meu dedo, ele era um certificado de que meus suspiros tinham um dono, e não era o Lucas. Ele me viu distraída e resolveu interromper meus pensamentos.
-Terra para Elisa, tudo bem com você querida?
- Sim, só estou um pouco cansada... Disse tímida.
- Quer que te leve para casa?
- Sim, por favor. - Disse meio triste de estar interrompendo uma tarde tão bonita.
- Para minha ou para sua? – Ele brincou, com aquele lindo sorriso aberto, que mostrava todos os seus alvos e perfeitos dentes. Eu ri...
- Ok, vamos. – Ele falou sério dessa vez.

Ele pagou a conta e nos dirigimos para seu carro, durante a viagem ate em casa ele ligou o radio. Ficaríamos calados todo o trajeto se não fosse pela sociabilidade do Lucas:
-Tenho te cansado muito no trabalho?
- Não doutor, desculpe, Lucas.
-Tudo bem. Gostou da tarde?
- Foi ótima! – Eu disse, mal conseguindo conter minha euforia.
Apenas mais um pretexto para um sorriso do Lucas.
- Que bom...

E finalmente chegamos ao portão da minha casa, nos descemos do carro e quando ele veio se despedir de mim, me deu um beijo, tão rápido quanto um tapa, e foi embora. Eu fiquei ali parada um tempo tentando entender o porquê. Por que ele me beijou? Por que aquilo me deixou tão inquieta? Por que eu gostei tanto? Por que ele demorou tanto para aparecer desse jeito na minha vida?

Entrei em casa e subi até meu quarto, já era tarde, precisava de um banho bem frio para esclarecer as idéias, depois do banho deitei na cama, acabei dormindo. Acordei com o celular tocando, era ele, definitivamente não sabia o que dizer ou como agir, então atendi e fiquei calada:
- Oi amor! – disse ele
- Oi Miguel...
- Tudo bem com você, Lisa? Sua voz está estranha.
- Tudo sim, só estou cansada.
- Oh que pena, ia te chamar para jantar...
Pensei que não poderia negar isso ao homem que sempre foi tão bom comigo, mesmo depois daquela tarde, eu ainda o amava, queria estar com ele, talvez sentir seu corpo contra o meu me fizesse esquecer aquela tarde confusa. Eu disse que iria...
- Ok meu bem! Daqui a 30 minutos passo aí para te buscar! – Disse Miguel, feliz.

Tratei de me arrumar e esperei que ele chegasse, o tempo parecia estar parado, eu estava contando os segundos para ver o Miguel, tinha certeza que depois que olhasse profundamente os seus lindos olhos cor de mel saberia que aquilo tudo não passava de um delírio, e que o meu verdadeiro amor eterno estava bem ali na minha frente. Logo a campainha tocou e eu fui atender a porta, assim que o vi, me joguei em cima dele. E ficamos ali, abraçados, por alguns minutos, que me pareceram dias; podia ouvir o agradável som de seu coração batendo em seu peito...
- O que houve? - Pergunta Miguel no meu ouvido, seu timbre estava sério.
- Saudades de você... – Respondi, tentando me fazer acreditar, acho que consegui.
- Ok então. Vamos lá?
- Claro! – Estava contente por finalmente estar com ele.

Então entramos no carro e saímos, ele não era muito de conversar enquanto dirigia, colocou uma musica bem calma e ficamos ouvindo juntos. Toda vez que passávamos por um poste aceso em alguma rua escura seus olhos ficavam bem evidenciados, era como se eu esquecesse que ainda existia um mundo quando os fixava. Mas um pensamento ainda teimava em aparecer, aquele sorriso, o brilho de seus dentes. Era como se algo sussurrasse para mim toda a cena. Deus, que tormento!  Acho que Miguel percebeu minha luta interior.
E ele parou o carro e disse:
- Chegamos.

Então vi um lindo bistrô, com algumas mesas ao ar livre, à luz de velas e das estrelas. Hoje era uma ótima noite para estar ali, o céu estava radiante.
- Gostei daqui Miguel! – Disse sorrindo. Ele me beijou e sorriu de volta.
- Eu sabia que você iria gostar! Venha, vamos pegar uma mesa ao ar livre para admirar as estrelas...

Nós sentamos e ele pediu um vinho, foi o suficiente para aquele algo sussurrar para mim de novo. Dessa vez lembrei-me das historias que o Lucas me contou de sua infância enquanto bebíamos, lembrei de como me deslumbrei com seu rosto cintilante enquanto ele falava... Eu lutava para esquecer aquilo, enterrar qualquer lembrança ou fio de sentimento. Miguel me merecia inteira. Foi aí que ele pegou minha mão e me perguntou:
- Eliza você pode me dizer o que está acontecendo? Eu realmente nunca te vi tão distante, parece até que está acontecendo uma batalha ai dentro...
- Meu amor, eu estou bem, não é nada. Eu juro...
- Você sabe que estarei com você ate o fim não é? Mas se você não quer mesmo falar, eu respeito isso...

Ela parecia que estava ali há algum tempo, e logo depois que o Miguel acabou de falar, aquela cigana veio até nossa mesa e entregou-lhe uma rosa branca com uma fitinha preta amarrada em seu caule e disse:
- Sinto muito... O senhor é a ultima pessoa desse lugar que merece sofrer.
- Como? - Perguntou Miguel, confuso.

A cigana olhou profundamente em meus olhos, era como se ela estivesse me invadindo, lendo todos os meus pensamentos, vendo todas as minhas lembranças sujas da tarde de hoje. Ela disse bem baixinho para mim:
- Seja sincera com ele, sua vida depende disso...

Não contive minha raiva daquela mulherzinha intrometida, quem ela pensava que era? Eu demorei a achar alguém que me amasse como sou. Não ia deixar que ela atravessasse meu caminho. Levantei da mesa e disse:
- Saia daqui sua imunda!                        
- O que é isso Lisa? – assustou-se Miguel.
- Meu amor, não se preocupe. Não deixarei que essa sarnenta nos atrapalhe. Não hoje!

A mulher nem parecia estar abalada com a minha reação, apenas olhava pra mim sem expressão, nem sequer saiu do lugar. Aquilo apenas me inflamou mais, peguei-a pela gola de seu vestido e a joguei na sarjeta, de onde a maldita não deveria ter saído, e então ela proferiu umas palavras estranhas que não entendi:
- A ecos riddeve cam coa ir farça dode onós tosu!

O Miguel ficou paralisado, olhando para aquela lastimável cena, estupefato. Quando fui ao seu encontro ele tirou uma nota da carteira e colocou em cima da mesa:
- Pague a conta e pegue um taxi de volta pra casa... – E saiu andando.

Eu fui atrás dele gritando o seu nome. Ele nem sequer olhou para traz... Até que percebi que tinha algo na mão, era um botão que se soltou do vestido da cigana quando eu a puxei. Enquanto eu olhava para ele nem percebi que estava no meio de um cruzamento movimentado, mas ouvi de longe o Miguel, gritando meu nome; pensei que ele deveria estar arrependido por ter me largado naquele lugar, sozinha. Virei-me eufórica para a direção de onde vinha sua voz. Uma luz tão forte veio de encontro a mim, triturando meu frágil corpo, juntamente com um barulho grave ensurdecedor, alguns segundos depois essa luz se apagou...
          
          Hoje sei o que a frase significa: “A Escuridão deve cair com a força de todos nós!

By Ewa Helter

4 comentários:

  1. Uau!!!

    Adorei o conto!!!

    Final surpreendente, d+++!!!!

    Vc escreve muito bem, mesmo, Ewa!

    Linda semana pra vc...

    Bjinhossssssss

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  2. Obrigada pelo elogio!
    boa semana pra vc tbm
    bjz

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  3. =OOO
    BELO CONTO!!!

    ahh, entaun seja bem vinda a minha lista de comparsas 0/

    seu link jáh está lá

    bjos

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  4. Manuh querida obrigada!
    É sempre bom fazer novas amizades!

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